sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Conto de Geraldo Lima

Sangue
                                                 



Por Geraldo Lima

        Tantos anos de amizade, e só agora a coisa se revelara. Por quantas vezes estivera prestes a se libertar da masmorra da consciência? Que resquícios de virtude a havia prendido esse tempo todo na teia de neurônios? 
        Então, estava dito? Culpa da embriaguez? Cegueira e estupidez causadas pela ira? Ou o vírus já estava incubado lá, no âmago, aguardando apenas um motivo para vir à tona? Estava dito. O outro recuou espantado: Não tô te reconhecendo, cara. Você não pode repetir isso. Mas o outro repetiu: uma, duas, três vezes, assim, na bucha.
        Os dois, durante anos, dividindo a calçada, a cerveja, a solidão e as trevas. Agora...
         Não deveria ter dito isso, não assim nesse estado, nesse momento; não desse modo, com esse tom de voz, com essas palavras: palavras são armas fatais, meu amigo. E a arma branca, nas mãos negras, brandida com fúria, retalhando o ar.

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