quinta-feira, 17 de março de 2011

Joaquim Nabuco e o engenho de sua infância

Reforma feita por fundação demorou dois anos, custou R$ 500 mil e seguiu descrições de livro do abolicionista

Infância passada na fazenda descortinou para ele a realidade do regime escravocrata que ele viria a combater



MARCELO BORTOLOTI

ENVIADO A CABO DE SANTO AGOSTINHO (PE)



"A escravidão para mim cabe toda em um quadro inesquecido da infância, em uma primeira impressão, que decidiu, estou certo, do emprego ulterior de minha vida."

As palavras do abolicionista Joaquim Nabuco (1849-1910) estão no livro "Minha Formação", de 1900.

Nelas, ele se refere a um episódio que viveu no engenho Massangana, no interior de Pernambuco, onde morou até os oito anos, e cujas casa grande e capela foram recentemente restaurados.

Nabuco estava sentado na entrada do casarão quando um negro desconhecido caiu de joelhos implorando que fosse comprado. Dizia que seu dono o maltratava e que corria risco de vida.

A cena descortinou para Nabuco o regime escravocrata com o qual convivia no engenho sem conhecer sua face mais dolorosa.

Nabuco teve as primeiras impressões do mundo nesta propriedade, onde foi criado pela madrinha, já que seus pais se mudaram para o Rio.

Ali, cresceu entre negros num ambiente em que senhores e escravos conviviam em relação amistosa.

Mais tarde, dedicou a vida a combater esse regime como político, jurista e escritor.

O restauro das edificações, empreendido pela Fundação Joaquim Nabuco, demorou dois anos e custou R$ 500 mil. A obra obedeceu às descrições que o próprio abolicionista fez no livro de 1900.

"Localizamos onde havia janelas na casa e onde foi enterrada a madrinha dele", diz o arquiteto Antônio Montenegro, que coordenou o trabalho de restauro.

Foram colocados móveis da época e uma exposição permanente descreve como era a fazenda e sua rotina. Em fotos e vídeos é possível conhecer um pouco mais da vida e da formação moral de Nabuco.

Mas muita coisa sucumbiu com o tempo. Não existe mais o antigo engenho que moía a cana, a senzala, nem o cemitério onde eram enterrados os escravos. (Folha de São Paulo, 11.3.2011)

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