segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Cantiga de ninar, poema RCF






Uma cantiga de ninar
me tira o sono.
O coração que tu me deste
era vidro e se quebrou,
o amor que tu me tinhas
era circular igual anel
e não me deixava fuga
como ciranda de pesadelo.
Terezinha de Jesus
me deu vários tombos
e ainda pago pensão.
Lá na minha infância havia um bosque,
onde o anjo se escondeu
para não ser guarda de mim.
Todos os bois de cara preta
mugem no matadouro da noite.
O boi não precisa me pegar,
antes dele os anos
adormeceram meus sonhos
e me fizeram a careta do malogro.


(do livro Memória dos porcos, 2012)


(foto:vivan maier)

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