sábado, 13 de outubro de 2018

Queda, poema RCF




Por que me perturba tanto
o alvoroço da imaginação
que, pombo sem asas, farfalha
dentro da gaiola improvável?
Pés imponderáveis navegam a ponte
entre a obsessão mole e a realidade dura.
O que existe entre uma e outra
é o único e obsessivo dente
que mastiga a carne pouca da razão,
suspensa por um ó de eletricidade e queda.

Todo ser é viagem incriada.
Sei que nenhum escape
é mais brutal que a realidade
e que não se pode arquivar a vida.

No livro-tombo,
inexatidão e inconsistência,
registro do pó,
sou apenas uma companhia limitada
que não se firma.

(de Eterno passageiro, Ed. Varanda, Brasília, 2004)
 
imagem retirada da internet: francis bacon

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