terça-feira, 1 de janeiro de 2019

O ônibus do corpo, poema RCF




Resultado de imagem para vivian maier

Todos os órgãos
trazem um cronômetro.
Alguns são apenas passageiros
conduzidos pelo ônibus do corpo.
Eles também têm sua rota,
suas paradas, sua quilometragem.
A pior tormenta
é aquela dos nervos:
a árvore da certeza desaba,
o rádio dos pensamentos emudece,
o quarto das emoções destelhado.
O nascimento é um minuto
de gozo dos pais.
Um jorrar de vida,
um frêmito líquido.
Viver, contudo, não é gozo,
mas, sim, descuido, frêmito seco,
o ciclo se fecha: o escuro pare o ponto final.

(do livro Memória dos porcos. 2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário