quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Obscuro, poema RCF








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Uma encruzilhada abre seus braços 
de perguntas e o caminho se oferece
como uma cruz errante.

Os olhos tristes são dois naufrágios.
Ó, escadas 
que tornam ácido o verbo ascender.
Gira a espoleta do sol 
e nos queima a paz do espírito,
tiro profundo na água do desterro.
Visitarei as fotografias, 
janelas abertas, 
onde as pessoas se assomam e nos olham.




(do livro Matadouro de vozes, 2018)

(rebecca dautramer)










quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

O homem do povo, poema RCF




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A roldana do cinto
aperta a pressão dos nervos.
A mecanização dos músculos,
o espasmo fabril e sem reboco,
a casa relógio de ponto final.
O cigarro crema os sonhos.
O álcool fermenta
o intestino das horas extras neste mundo.





(Matadouro de vozes. Rio: 7Letras, 2018)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O remédio do mundo, poema RCF






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Só sobrevive 
o que se alberga caverna
e pratica musgo no homem.

Cada copo com sua tempestade 
torna o homem tornado.

Alambicar o sal da terra
mesmo sabendo 
que o remédio 
não remedia 
a dor de estar no mundo.



(do livro Matadouro de vozes, 2018)



segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O imóvel sentido do mundo, poema RCF






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A correria dos móveis 
que não saem do lugar,
soldados no chão, 
vigilantes e sentinelas,
espaço amplo do raso,
visão dos animais que se encontram
tristes e súbitos no silêncio dos imóveis
que, apesar da impressão de imobilidade,
se regozijam do agitado
mundo do respiradouro das janelas.
Uma fruteira de plástico
abisma o viciado ar do minuto.





(do livro Matadouro de Vozes, 2018)