sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Afonso Henriques Neto por Fabio Coutinho

Poesia Sempre




                                                       Para Danilo Gomes



São três gerações de grandes poetas. A primeira é representada por Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), que a crítica mais exigente considera, ao lado do catarinense Cruz e Sousa, um dos nomes nucleares do simbolismo brasileiro. Na visão especializada do saudoso professor Lauro Junkes, o mineiro Alphonsus (pseudônimo de João Henriques da Costa Guimarães) foi o poeta do "amor inextinguível, do sonho místico, da suave melancolia nostálgica, da fé religiosa e mariana, do ocaso e da morte."

Pai de quatorze (!) filhos, um deles, o caçula, também foi poeta: o formidável sonetista Alphonsus de Guimaraens Filho (Afonso Henriques de Guimaraens), nascido em Mariana, MG, em 1918. Viveu longos anos em Brasília, a partir de 1961, aqui participou de diversas antologias poéticas, todas organizadas por Joanyr de Oliveira, e foi um dos fundadores, em 1963, da Associação Nacional de Escritores (ANE). Seu livro de estreia, LUME DE ESTRELAS (1940), foi premiado pela Academia Brasileira de Letras e elogiado por Mário de Andrade e Manuel Bandeira, para quem os versos do poeta de 22 anos "revelavam em grau invulgar fina sensibilidade, forte imaginação verbal e técnica segura."

Ao contrário de seu genitor, morto precocemente poucos dias antes de completar 51 anos, Alphonsus de Guimaraens Filho foi um homem longevo, falecendo em 2008, aos 90 anos de idade, na Cidade Maravilhosa. Um de seus três filhos, assinalando a terceira geração de poetas, na mesma família, é o belo-horizontino Afonso Henriques (de Guimaraens) Neto, que se destacou, inicialmente, ao figurar, em 1976, na célebre antologia 26 POETAS HOJE, marcante aventura literária de Heloísa Buarque de Holanda.

Avô, filho e neto poetas, uma famíla dedicada, geração após geração, a uma das atividades mais nobres da civilização humana, exaltada, ao longo dos séculos, pelos povos mais cultos e por aqueles que, como o nosso, também almejam o reconhecimento de suas conquistas intelectuais.

Afonso Henriques Neto, recentemente empossado na Cadeira n° 4 da centenária Academia Mineira de Letras, vem, também, de assumir a editoria geral da revista POESIA SEMPRE, da Fundação Biblioteca Nacional, sabidamente a mais importante publicação do gênero entre nós, por cuja direção já passaram poetas da estatura de Antonio Carlos Secchin, Affonso Romano de Sant'Anna e Marco Lucchesi. Além da afortunada tradição e de seus próprios e sólidos recursos poéticos, o novo editor de POESIA SEMPRE carrega no coração o símbolo vitorioso do Fluminense Futebol Clube. Nada mais lhe falta.



FABIO DE SOUSA COUTINHO, advogado e bibliófilo, é membro titular do PEN Clube do Brasil e da Academia de Letras do Brasil (ALB).

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tomas Tranströmer, poema do Nobel


No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas

                                                                           subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!
"Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,
"aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.
A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei?



Tomas Tranströmer, tradução de Luís Costa


imagem retirada da internet

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O editor inglês

Neil Astley
Bloodaxe editor Neil Astley. Photograph: Pamela Robertson-Pearce



Neil Astley é o editor da Bloodaxe Books inglesa, fundada em 1978. É talvez a mais importante editora de poesia na Inglaterra. Publicou mais de 300 poetas e ele se orgulha de ainda ter muito mais outros poetas, principalmente mulheres, para publicar. Nenhuma outra editora, diz ele, publica mais livros de poesia na Inglaterra.