quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Tatuagem, poema de Ronaldo Cagiano


Teu nome esculpido em mim
torna menor o passado
e subverte a precariedade
dos meus dias.

Palavra que reverbera em mim,

             cintila como um cometa
             descendente de longínquas eras
             para um porto seguro

ressonância de mistério
que só agora ouso comprender.

No esconso das madrugadas
procurei tua face
arraigada
no endereço dos exílios interiores.

Enfermidade com alicates de aço,
a solidão agora
é alimento dos vermes,
fronteiriça de nenhum horizonte
onde habitam soluços
condenados à eterna vida de mundo nenhum.

Tatuagem que não se desnutre
com a marcha do tempo sobre o corpo,
sua vida se inscreve no meu viver
como um rio incorporando outras vertentes.

(do livro recém-lançado O sol nas feridas, São Paulo: Dobra, 2011)

Ronaldo Cagiano nasceu em Cataguases (MG), viveu em Brasília, onde se formou em Direito e reside em São Paulo. Colabora em diversos jornais e revistas, publicando artigos e resenhas. Na última década publicou, entre outros, os livros Dezembro indigesto (contos, Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, 2001) e Dicionário de pequenas solidões (contos, Língua Geral Editora, Rio, 2006).

imagem retirada da intenet: toytoy tatoon