sábado, 22 de janeiro de 2022

Viagem, poema RCF


 Vivian Maier, la belleza de lo cotidiano.

 

 

 Trago na boca

a pastilha do freio.

Um gole de silêncio,

um acelerador de paradas proibidas.

Navego o mesmo corpo

preso entre margens.

As estradas são rios duros.

 

A saliva espuma

a língua morta:

gastar o meu latim

borbulha declinações.

 

Os lábios, por sua vez, destilam

a cevada dos desfiladeiros.

 

A baixada sobe

à cabeça

e dá a dose de minha platitude.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Olaria, poema RCF



 

 

O tijolo queima

sua função de moradia

e elege o retângulo

como forma de conviver.

 

A casa é uma olaria.

Queima-se o barro

na cólica do fumo.

A casa se constrói

de fermentação dos

espaços longos,

do cozimento do mormaço.

 

A fermentação

cresce diante do rumor

dos peixes-elétricos aprisionados

no aquário das líquidas certezas.



(do livro Matadouro de Vozes, 2018)