sexta-feira, 14 de abril de 2023

O homem olha o Mondego, poema em português e italiano traduzido por Manuela Colombo

 

Alguns rios me banham: Bacanga e Anil.
Meu corpo está cheio de rios:
minhas veias são rios vermelhos
que desembocam no mar do meu coração.
Os rios se instalam em mim
em mim me danam, lanhando
por dentro meu corpo, linfáticos e
cheio de incertezas, onde habitam
passado e história, dor e escuridão.
Há rios em mim que desconheço
sua foz, sua embocadura,
de onde nascem, para onde vão.
O pior rio é o da mente
que flui sem margens,
desordenado e com várias águas,
águas desiguais e turvas.
Há rios em mim que nunca supus ter.
Meu pensamento é um rio seco
mas pleno de correnteza e afogamento.
 

Un uomo guarda il Mondego

Ronaldo Costa Fernandes

Ci sono fiumi che mi bagnano: Bacanga e Anil.
Il mio corpo è pieno di fiumi:
le mie vene sono fiumi vermigli
che sboccano nel mare del mio cuore.
I fiumi confluiscono in me,
mi portano al degrado, deteriorando
l’interno del mio corpo, linfatici e
colmi d’incertezze, in cui dimorano
passato e storia, dolore e oscurità.
Ci sono fiumi in me di cui non conosco
la foce, lo sbocco,
da dove nascono, dove vanno.
Il fiume peggiore è quello della mente
che scorre senza margini,
disordinato e con varie acque,
acque incostanti e torbide.
Ci sono fiumi in me che mai supposi d’avere.
Il mio pensiero è un fiume secco
ma pieno di correnti e annegamenti.
 
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quinta-feira, 13 de abril de 2023

Vida de cão, poema em português e italiano traduzido por Manuela Colombo

 

Meu cachorro tem pesadelos
em que deve sonhar que é humano.
Sonhar que tem uma vida de cão,
vai ao trabalho num trânsito de matilha.
Sofre com um chefe em cio
– só pode ser cio as alterações de humor.
Cansa de ser bípede
e ver o mundo a um metro e oitenta.
Apavora-se de viver trancado
na caixa-trabalho, na caixa-carro,
na caixa-banco, na caixa-restaurante.
Deve se perguntar por que não vivo no quintal.
E lamenta-se que tenho rotina
que faz parte do repertório do homem,
mas não do enxoval de coisas
de Deus, que vive solto no mundo,
não tem hora para dormir,
não tem hora para acordar.
Por fim, o cão desperta e suspira:
não é a fera do homem.
 
Il mio cane ha degli incubi
in cui deve sognare d’essere umano.
Sognare che fa una vita da cani,
va a lavorare in un traffico da cagnara.
Sopporta gli estri del suo capo
– non è che estro quel brusco mutar d’umore.
È estenuato dall’esser bipede
e vedere il mondo da un metro e ottanta.
L’atterrisce vivere trincerato
nella scatola-ufficio, nella scatola-auto,
nella scatola-banca, nella scatola-ristorante.
Deve domandarsi perché io non viva in cortile.
E gli rincresce che io segua una routine
che fa parte del repertorio dell’uomo,
e non della dotazione di cose
di Dio, che vive libero nel mondo,
non ha orari per dormire,
non ha orari per svegliarsi.
Alla fine il cane si ridesta e tira un sospiro:
no, non è quell’uomo così bestia.
 
https://lyricstranslate.com/en/vida-de-cao-vita-da-cani.htmlhttps://lyricstranslate.com/en/vida-de-cao-vita-da-cani.htmlhttps://lyricstranslate.com/en/vida-de-cao-vita-da-cani.html

terça-feira, 11 de abril de 2023

Vida de cão, poema em português e francês traduzido por Christian Guernes

 

Meu cachorro tem pesadelos
em que deve sonhar que é humano.
Sonhar que tem uma vida de cão,
vai ao trabalho num trânsito de matilha.
Sofre com um chefe em cio
– só pode ser cio as alterações de humor.
Cansa de ser bípede
e ver o mundo a um metro e oitenta.
Apavora-se de viver trancado
na caixa-trabalho, na caixa-carro,
na caixa-banco, na caixa-restaurante.
Deve se perguntar por que não vivo no quintal.
E lamenta-se que tenho rotina
que faz parte do repertório do homem,
mas não do enxoval de coisas
de Deus, que vive solto no mundo,
não tem hora para dormir,
não tem hora para acordar.
Por fim, o cão desperta e suspira:
não é a fera do homem.
 
Mon chien fait des cauchemars
où il doit rêver qu'il est humain.
Il rêve qu'il a une vie de chien,
qu'il va au boulot dans un trafic de meutes.
Souffre d'un patron en rut
– ce ne peut être que le rut ces sautes d'humeur.
Fatigué d'être bipède
et de voir le monde depuis ses un mètre quatre-vingts,
il est terrifié à l'idée de vivre coincé
dans la niche-travail, la niche-voiture,
la niche-banque, la niche-restaurant.
Il doit se demander pourquoi je ne vis pas dans le jardin.
Et se lamente que j'ai des rituels
qui font partie du répertoire de l'homme,
mais non du trousseau des choses
de Dieu, que je vive en liberté dans le monde,
qui n'a pas le temps de dormir,
pas le temps de se réveiller.
Enfin, le chien s'éveille et soupire :
il n'est pas cette homme si bête.
 
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domingo, 9 de abril de 2023

Caderno, poema em português e francês traduzido por Christian Guerne

 

Caderno

Ronaldo Costa Fernandes

Difícil escrever
em tempo de cinzas
o caderno de folhas secas.
É outono,
o chão coalhado de pontos finais.
 
Os galhos magrelinhos
esticam seus braços
rabiscando o caderno sem pauta.
 
Da boca de lobo
escorrem minhas notas
ao pé da vida.
 
Um diário só vale a pena
se não falar de hoje.
 

Cahier de notes

Ronaldo Costa Fernandes

Difficile d'écrire
au temps des cendres
sur un cahier de feuilles sèches.
C'est l'automne,
le sol coagule à un point extrême.
 
De maigres ramures
étendent leurs bras
gribouillant le cahier sans lignes.
 
Mes notes s'écoulent
de la gueule du loup
jusqu'au pied de la vie.
 
S'il ne parle pas d'aujourd'hui
un journal ne vaut pas la peine.
 
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