quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Lavoura, poema

 


 

 


 

 

 

Em todo outono

minha mão desabrocha.

Rego-me com dúvidas

que são bom adubo.

 

Abaúla-se meu tronco,

alguns paradoxos                                          

penduram-se nos galhos

e roubam-me

os frutos da certeza.

 

O outono ara meus pés

plantados no chão.

 

Meus braços espigam,

meus olhos d’água

me brotam de ternura

pelos bichos da terra

tão pequenos.

 

 

                                          

 

 

 

domingo, 28 de janeiro de 2024

Sapatarias, poema


 

 


 

 

 

As sapatarias guardam

à noite o diálogo

das promessas

de passos que não se dão

e os caminhos sem medidas.

 

Por sua vez, os sapatos,

a oferta da espécie,

que se acostumou

à trilha dos nômades,

mudam-se em couros.

 

Todas as viagens

são feitas na memória.

E as sapatarias

o verdadeiro

museu do futuro.

 

Às vezes, calço a manhã

e ela me aperta.

À noite, me calço

do generoso que não fui.

 

São ex-votos

essa aberração

de pares sem pernas.