sábado, 9 de setembro de 2023

Batismo de fogo, poema

 


 


 

 

 

Batizei-me na pia abissal

quando o Pai

me afogou no mar Vermelho.

Não fui muito católico,

culpa da minha mãe igreja

que me pariu.

Ordenei-me

no seminário das palavras

e percorri longos corredores

nos conventos das letras.

 

Minha hóstia é consagrada a Dante

e coloquei a língua pra fora

aos senhores da razão.

Comi o croissant que o diabo

da poesia francesa assou

e pari com o suor do rosto

minha bíblia de palavras pagãs

que se chama literatura.