sábado, 30 de abril de 2022

Cozimento dos prazeres, poema RCF






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A cozinha espinafra 
o que de melhor há em mim.
As saladas de euforia 
não fazem parte da dieta
dos meus nervos
nem dos temperos de alma.

Cozinho meus pensamentos.
O sal adoça meus sentires 
e a gula pelas palavras
apimenta meu renascimento.

A carne é mais fraca 
quando a alma é tenra.
Penso nos embutidos 
de minhas veleidades,
o agridoce da juventude,
os passeios pelo mormaço
da idade adulta
e a fase inquieta 
onde asso à quentura
do forno das ideias. 

As frutas viciam-se 
em dentes 
e se oferecem, carne macia,
à lubricidade da boca,
e ao tempo maduro 
da última ceia. 




(do livro Mataduouro de vozes. Rio: 7Letras, 2018)

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