domingo, 9 de outubro de 2022

Pororoca


 


 

 

 

 

Os rios

como carneiros de água

caminham para o matadouro

salgado do mar.

 

Algumas vezes,

o bicho maior

espuma suas garras

e invade o ninho doce.

 

Há luto, revolto

e o que era manso

se revolta e luta.

 

A boca do mar

baba sua ferocidade

grande e humilha

a docilidade

em seu pasto marrom

de lãzinhas apascentadas.

 

Mas o pequeno

insurge-se contra a boca

monstruosa

que tudo agita,

domina e oprime

e, na luta desigual,

empurra o invasor

que recua

e se urina, borbulhante,

salgado

e entra em cólica

que é sua forma

de desconfiança.

 

Poderia ver a luta

do Bem e do Mal,

de David e Golias,

do capital e trabalho,

o sim e o não,

o dia e a noite,

se não fosse

o que em mim rumina.

 

 

 

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