sexta-feira, 3 de março de 2023

A felicidade, poema

 


 

 

 


 

 

A felicidade

é uma liberdade portátil,

de bolso,

vertical e anônima.

 

É um choque não elétrico,

uma eletricidade

que corrompe as grades,

os fossos de meios-fios,

que abundam nas manhãs.

 

Nem toda liberdade

traz felicidade,

mas, seu contrário,

um barco que rompe

a correnteza,

o feliz é mais liberto.

 

Tenho uma maçã nas mãos

e meu único cárcere

é a chuva com suas barras de água.

 

Tenho uma volúpia

e meu presídio é meu corpo

que não pode ser dois.

 

Leio um poema de Fernando Pessoa

e as tabacarias e o Estevez desaparecem.

 

Caminho no parque sem pernas

e todas as árvores me abanam.

 

Estou liberto

porque sou feliz.

 

Mas não posso ser feliz

se todos não dançarem

com a mesma orquestra ou banda.

Meu coreto é público

e minha praça é ampla

como um coração alegre.

 

Meu Deus, não me dê

a felicidade dos simples,

dos sensatos e dos mansos,

que deles será o reino das prisões.

 

 

 

 

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