sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Nove anos na Venezuela, poema

 


 


 

 

Há muito de migrante

em minha roupa;

os paletós de cinzas

e os sapatos da inquietude.

Tudo me move e imobiliza;

navios negreiros da infâmia

me embarcam na manhã nublada.

Recuso o passaporte

da terra seca da ambulância;

difícil sonhar em outra língua

quando o exílio invade

a temperatura do presente.

Dois rios que não se misturam

(como o Negro e o Solimões)

formam a fronteira

do meu desterro.

Escrevo em língua madrasta

e meu destino passa a ser

um trem que não para em estação alguma.

 

 

 

 

 

 

 

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