domingo, 25 de outubro de 2020

A famélica viagem do homem, poema RCF




 


O gado caminha seu destino,
mastigando o caminho
como um aspirador de grama.

O gado e seu sacrifício,
esquartejado na mesa,
a famélica viagem do homem
no pasto e antipasto
da carne que devora carne.

O gado é uma poesia mansa
e gorda que passeia sua morte.
Quem disse que a poesia está
na leveza e nas plumas?
A poesia bovina marcha 
a paciência e derrota
encarceradas na amplidão
dos pastos das horas,
a ruminação da entrega
pacífica à vida
ao ar comprimido
– mas dito livre –
das pradarias da servidão.


(O difícil exercício das cinzas. 2014)

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