segunda-feira, 13 de junho de 2022

Águas, poema RCF

 




 

Lara Zaukoul

 

 

 

 

Submeto-me

ao sentimento de pertencer

a duas espécies distintas:

o homem que submerge

e outro sufocado de ar.

 

Não sei se ando enforcado

ou se mergulho em mim,

onde só há água revolta,

profundidades obscuras

e peixes que jamais

viram a luz do sol.

 

Meu nado

é um verbo para nada.

Atravesso de uma margem

a outra o rio subterrâneo

dos meus lençóis d’água.

 

Afogo-me na época da seca

no pó dos caminhos errados

e na aridez dos convívios,

no leito vazio,

na poeira do tempo.

 

As piscinas

são metonímias

de represa,

sem o perigo

das comportas,

que oprimem, cessam,

coalham,

interrompem a natureza

dos rios,

sugerem a queda

manipulada e autoritária.

 

Sei dos meus rios,

das minhas piscinas

de interrupções e

redundâncias,

da pasmaceira

de pensamentos redundantes,

das marés vazantes de humores

e da lua

que vigia antes que ilumina.







 

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