A lixa vai limando o tempo.
Tem gente que se lixa para o tempo.
Mas ninguém escapa da folha áspera.
Da folha que retira camadas de anos
e dá a primeira mão do passamento.
Quando a lixa fica velha,
porque a lixa também tem sua lixa,
perde os dentes e saliva apenas esfregão.
A lixa arremata móveis,
gente, ferrovia, bola de gude, pensamento,
amores, dissidias, mas não fere o ódio,
nem outras moléstias de desaforo do sentimento.
Só a morte, que é a lixa final,
que logo dá superfície sem tinta,
consegue lixar o desacordo.
Há gente que diz que o perdão
é uma lixa cor de rosa
que alivia, lima,
corrompe o que já é corrompido,
logo por oposição, dá brilho no fosco.