sábado, 5 de março de 2022

Entrevista TV Senado Vieira na ilha do Maranhão


terça-feira, 1 de março de 2022

Acalanto, poema RCF

 



 

 

Vem me fazer mais humano

Com teu sexo matemático

Que me soma

                        e me subtrai.

                        Vem me dizer versos de Vallejo

                                                                       em espanhol,

                        falar de desejos e absurdos

                        – que estão mais próximos porque radicais –

                        e desenhar com teu corpo

                        – de linhas essenciais –

                        tua presença no ar frio da tarde.

 

Difícil falar mais alto que as ondas,

                        elas rugem estentóricas

                                               seu rumor de vícios –

                        uma e outra vez voltam a se quebrar.

                        Posso apenas murmurar, dizer sandices,

                        caminhar pelo malecón,

                        incendiar-me ao crepúsculo.

 

 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A arca das consequências






nesta minha barca, só entrarão
os animais distorcidos pela aspereza
que dá substância ao ar
e ao viver um ato de roçar a cautela dos dias
haverá uma ninhada de desculpas
as aves irrequietas dos volúveis
paquidermismo da embriaguez
uma avareza em forma de cão
anônimas e sumidas vidas de insetos
répteis dos desejos
duas almas desgastadas
uma família de ânsias
um herdeiro do fim
duas medidas de despejo
o animal disforme da utopia
e muita água uterina
a nos afundar na origem
até que venha a pomba do apocalipse
a mostrar que ainda há vida
sobre a face da terra
e nenhuma salvação nos versículos que escrevo.


(do livro O difícil exercício das cinzas)