Às seis horas da tarde,
as cidades percevejam.
Todos se tornam
um impasse absurdo
como um barco
dentro de uma garrafa
Gordas
lombrigas
escurecem
no alerta dos sinais
que flanam
no pisca pisca taciturno.
Às seis horas da tarde,
os homens fedem seu calor de trabalho
como uma usina expele fumaça
e vapor.
As seis horas da tarde
não é a hora da ave-maria.
É a hora do limbo
do esconso
da perversão
da licenciosidade dos descontos.
A grande muralha da China dos ônibus.
Filas centopéicas no limiar do tédio.
O atrito
– ferro contra ferro –
dos trilhos
é o crocitar do corvo
que existe nos trens e metrôs.
Deus criou o dia e a noite
e as seis horas da tarde.
Não há cidade
sem suas seis horas da tarde
inventadas
para inventar as cidades.
(do livro Andarilho, 7Letras, Rio, 2000)