O padeiro exerce o fermento
na alquimia do forno
que tudo assa: trigo e cotidiano.
Há fila de espantos
para comprar o alimento
que já está em nós:
rotina de existir todas as manhãs.
Há algo de bíblico
em meu ateísmo amanteigado
e no confuso café com leite
em que as matérias filosóficas
se reduziram, em minha mesa, a migalhas.
A imaginação é o grande padeiro,
de um lado me fermenta,
de outro me coloca em seu forno:
a combustão de existir.
(do livro Eterno passageiro. Brasília: Varanda, 2004)