sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Poema para Neruda


 

 


 

 

 

Pensei no nome Neruda

como algo rústico e vital.

Neruda é teu mar doce,

tuas mãos obreiras de cobre,

tu perfil de otoño y relumbre,

tua cara de abañil

y costumbre

de sollozos en la tarde quimérica.

 

Subo a la cumbre

de teus montanhosos versos

e percebo que a natureza

me fez mesquinho e de cobre.

Não conheço o invento

das marés

nem tampouco as luzes do norte

que insistem em alvorecer

os crimes de amor.

Na baixa estação

dos pássaros do vento

de verão

que voam com asas quentes

me abrigo

ao desamparo

dos horizontes

cheios de talvez y líneas

que não se alcançam

porque ilusórias.

 

No pescado tempo

de tua paisagem americana

me agasalho

nos sentimentos andinos

de ser pouco

e múltiplo

como uma lhama

que apascenta

o sol da montanha.

Neruda es tu mano

argentina, tu rostro chileno,

tu palavra de América,

os pés andarilhos de pluma

tu aventura de desierto

y pasión,

o corpo labiríntico

dos pré-colombianos.

Neruda é tua paixão

pelo mito da água,

Neruda é teu vício

do tempo

e teu ar universal

onde estarás sempre

e sempre respirarás

o atacama

do mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O mar e o tempo, poema

 



 

 

 

 

Aqui as traineiras

só sabem dos desvios

do pequeno mar do porto

pois se recusam a sonhar o grande oceano.

 

Dos galhos

da árvore do tempo,

penduram-se

culpas inchadas e maduras,

imersas no apodrecimento lento.

 

Ouvem-se os gemidos das portas,

e logo tudo se cala.

A madeira do silêncio

se estende e se oferece.