Com suas quatro patas vadias
inaugura a rapidez do faro.
Seu rabo desenha-se na rua,
movendo a pequena máquina
do corpo.
Esgueira-se pela fraude do lixo,
o mundo desordenado,
feito de dejetos e pouca carne,
sempre o caminho menos curto
e as palmas a enxotá-lo
de sua paz de orelhas em pé.
Sonha com a retidão
de uma vida ordenada,
sem a liberdade da caça
– já que não é caçador –
onde possa sonhar
que não é um cão vadio.
Boi e cão são parte do homem.
Em todo lugar há cães.
Um homem é um homem,
sua circunstância e seu cão.
O cão fareja o fim,
como um elefante
busca seu cemitério
e enrosca-se na manta
do vento, ali onde se
agasalha antes de desistir.
O homem não é o melhor amigo do cão.
A que raça de cães
pertencem os moradores de rua?
(O difícil exercício das cinzas. 2014)
ilustração: rebecca drautemer
ilustração: rebecca drautemer