os bracinhos de galhos secos,
o cobertor de lã cinza
cobre o corpo franzino da manhã,
o rosto amarrotado de nuvens.
Sob o narcótico do sono,
o sol, com sua luz antibiótica,
briga para arregaçar as mangas do dia.
Viro-me na incubadeira da cama,
a focinheira bafeja ar seco,como seco é o choro do orvalho das árvores
no estio de julho em Brasília.
O cinza que tudo anula,
desfaz, apaga ou nega
– existência que desconhece a existência –
não logra me trazer de volta à rotina
dos que vão para a enfermaria do trabalho.
(do livro Memória dos porcos. Rio: 7Letras, 2012)