sábado, 14 de dezembro de 2019

Espelho após a morte, poema RCF







Quando morrer, não verei mais
o vaso de louça andaluz da varanda,
mas ele continuará lá.

Quando morrer,
não mais ouvirei o canto verde dos periquitos
mas elas continuarão a voar
e amanhecer a manhã verde.

Quando morrer,
não mais me verei ao espelho,
mas ele continuará lá
porque haverá outros rostos
para terem a ilusão de que vivem.



(do livro Memória dos Porcos, Rio: Ed. 7Letras, 2012)

domingo, 8 de dezembro de 2019

Diálogos no ar, poema RCF




Eis que o trapezista, em estado de espanto,
me invoca
o picadeiro de um metro quadrado,
a redundância dos voos mecânicos,
a ciência dos estilingues,
efêmero, patético e inconcluso,
esquina de ar onde a gravidade é mais lei.


(do livro Eterno Passageiro, 2004)

imagem retirada da internet:chagall