Tua
fotografia,
espelho
fixo,
entre a película e a
íris
expõe a luz do negativo.
As
cidades estão cada vez mais velhas
e não têm mais os dancings
gosto
de ouvir a voz da flauta do vinil
e so long, boy
de alguma girl
platinada.
As
cidades, oh, as cidades
– Amsterdam, Piza, Cairo –
sonhos, anseios e
desejos
antes que ruas,
edifícios e cafés.
Meu
coração salta do peito
um coração negro como
uma máquina fotográfica
que pulsa a cada chapa
e
rebobina em estertores.
As línguas todas
estiradas
nas folhas
vermelhas do bico-de-papagaio
tagarelando
a
manhã vegetal.
Minha casa é uma cidade
pois nela
cabem
as
esquinas dos relógios,
o
tumulto dos corredores,
os
elevadores de cabo roto
do
pesadelo.
Caminho
de dia
e
o monóculo da Lua
branca
e mimética
fecha um olho
como quem atira
no alvo da minha
pele.
Sou
um percevejo feliz
e pródigo
– cato moedas e acenos –
quando partir
só o gosto dos lenços
brancos
me encherão os olhos
como lágrimas de
pano.
(do livro de estreia Estrangeiro, 1997)