Il contagio della vita
ai suoi sintomi.
.
Tradução de Manuela Colombo
O contágio da vida
com seus sintomas.
(do livro Memória dos porcos, 2012)
Sou
apenas personagem
de
um sonho do qual nunca sairei.
E
mesmo acordado,
repetirei
as mesmas histórias
que
chamarei de passado.
Ao
nascer sonhei que nasci,
mas
ao morrer
se
apagarão todas as minhas ações
e
os outros as lembrarão
como
sonhos que tiveram
com
um personagem
chamado
Ronaldo Costa Fernandes.
(do livro A invenção do passado. Rio: 7Letras, 2022)
Nem todo papel
tem o mesmo peso.
Os papéis do divórcio
têm a gramatura descabelada.
O quilo do atestado de óbito
é áspero e melancólico.
A saliva da máquina me azeita.
Guardo a fome na despensa.
A roda do desejo ainda me saliva.
A largura do mínimo.
Trago minhas opiniões,
evaporo minhas ideais,
e o que me resta são cinzas.
Minha pele, o papel do meu corpo,
se destitui do tempo.
Submeto-me
ao sentimento de pertencer
a
duas espécies distintas:
o
homem que submerge
e
outro sufocado de ar.
Não
sei se ando enforcado
ou
se mergulho em mim,
onde
só há água revolta,
profundidades
obscuras
e
peixes que jamais
viram
a luz do sol.
Meu
nado
é
um verbo para nada.
Atravesso
de uma margem
a
outra o rio subterrâneo
dos
meus lençóis d’água.
Afogo-me
na época da seca
no
pó dos caminhos errados
e
na aridez dos convívios,
no
leito vazio,
na
poeira do tempo.
As
piscinas
são
metonímias
de
represa,
sem
o perigo
das
comportas,
que
oprimem, cessam,
coalham,
interrompem
a natureza
dos
rios,
sugerem a queda
manipulada e autoritária.
Sei
dos meus rios,
das
minhas piscinas
de
interrupções e
redundâncias,
da
pasmaceira
de
pensamentos redundantes,
das
marés vazantes de humores
e
da lua
que
vigia antes que ilumina.