Por que me deste dois pés de esponja,
se sabias que o caminho era pantanoso?
Por que me deste este desequilíbrio,
este perigo de alto mar ao atravessar a rua?
Esta saliva de areia,
este estômago que digere a si próprio
este nervo exposto,
esta memória feita de cobogós?
Por que me fizeste
com estatura pequena,
eu, que tenho um metro e oitenta?
Por que não terminaste meu rosto
que só tem um lado
e, por isso, não posso dar a outra face?
(A máquina das mãos, 2009)