a maré cria
a circunstância
do torvelinho
enquanto os marinheiros
com suas redes
vão pescando
o medo que é um peixe
imponderável
escondido
no féretro das sombras
estão assustados
até mesmo a exsudação
lembra a eles
que estão vivos
mas que a fetidez
do corpo sujo
é um pouco da morte
que carregamos
é hora de recolher
as redes indizíveis
antes que se transformem
em mortalhas
e dar rumo ao barco
à deriva dos serôdios
no cais
ninguém nos espera
ninguém
nem mesmo
as mulheres pagas
putas ou carpideiras
resta-nos o porão
onde cabem as cargas
do melhor desvario
e os contêineres
que carregam partes
podres de nós:
o próprio vazio
que tudo preenche
(do livro Andarilho. Rio: 7Letras, 2000)
(imagem retirada da internet: íntura em 3d, ipad.com)