O romancista mineiro Autran Dourado, que morreu hoje aos 86 anos de idade, era um homem culto, leitor de clássicos, tinha uma bela formação humanística. Lembro-me de uma conversa dele com Silviano Santiago, num desses programas que, infelizmente, dão traço de audiência, em que ouvi uma categorização de romancistas que me encantou e seduziu. Autran dividia seus companheiros da arte romanesca em gigantes, artesãos e gênios. Instado por Silviano, exemplificou, lapidarmente: Balzac era o gigante, Flaubert, o artesão, e Cervantes era o gênio. Nova provocação do interlocutor: e Machado de Assis? A resposta de Autran veio na lata, sem qualquer titubeio: gênio na Literatura Brasileira, artesão, em termos da escrita mundial. A resposta do mineiro que nos deixou neste último dia de setembro de 2012 veio com enorme segurança, ornada pela simplicidade que é própria dos que dominam sobejamente o seu ofício. Afinal, não se ganha o Prêmio Camões impunemente. Muito menos o Machado de Assis, que a ABL confere anualmente pelo conjunto da obra, uma espécie de Nobel tupiniquim.
(FABIO COUTINHO)