O mundo como proposta
Após quatro décadas de magistério, as duas últimas como professor titular de Literatura Brasileira da Faculdade de Letras da UFRJ, Antonio Carlos Secchin acaba de anunciar sua aposentadoria do serviço público federal.
Para marcar o fato, expressivo grupo de amigos, colegas e alunos fez publicar um livro, de circulação restrita, intitulado
ESCRITAS E ESCUTAS. Na obra, editada sem o prévio conhecimento do grande mestre, figuram depoimentos e a mirada crítica de alguns nomes exponenciais da vida literária de nosso país, intelectuais da estatura de Ivan Junqueira, Cleonice Berardinelli, Sânzio de Azevedo, Cláudio Murilo Leal e tantos mais.
Mas há, também, a palavra espontânea de discípulos que, a exemplo de Flávia Amparo e Gilberto Araújo, se beneficiaram, em sua passagem acadêmica, das lições e ensinamentos de Secchin, que jamais deu uma aula sem prepará-la com a profundidade científica que gostaria de merecer, caso fosse ele o aluno. E tal rigor se reflete na qualidade e na transparente sinceridade das manifestações discentes, todas convergindo para o reconhecimento da alegria e do privilégio que consistiram em ter um professor tão culto, erudito e generoso na transmissão do saber acumulado.
Em 2004, aos precoces 52 anos, Antonio Carlos Secchin ingressou na Academia Brasileira de Letras, tornando-se, então, seu mais jovem integrante. Só muito recentemente, transferiu a honraria ao escritor Marco Lucchesi, que foi eleito para a Casa de Machado de Assis aos 48 anos incompletos.
Além de festejado docente de Literatura Brasileira, Secchin se destaca, no cenário cultural pátrio, como poeta, ensaísta e organizador de edições. Sua interpretação da obra cabralina foi considerada, pelo próprio João Cabral de Melo Neto, como a que "melhor analisou os desdobramentos daquilo que pude realizar como poeta".
No curso da vida, em paralelo a tantos afazeres e dedicações profissionais, Secchin se tornou, ao lado de seu saudoso confrade José Mindlin, um dos maiores bibliófilos do Brasil, havendo publicado um utilíssimo Guia dos Sebos, que já caminha para a sexta edição. Como lembrado pelos organizadores na afetuosa Apresentação, citando célebre passagem machadiana, "O mundo não nos é dado, o mundo nos é proposto." Antonio Carlos Secchin soube sempre dignificar, em sua trajetória de intelectual público, as diversas faces da proposta vital que recebeu, sintetizada no criativo ex libris LITERARUM VINCITUR PACE.
Deparei, nas páginas do precioso opúsculo de louvor, com referência de Cristina Secchin ao fato de o homenageado ser um apaixonado torcedor do Botafogo de Futebol e Regatas. A revelação de tal circunstância, apenas uma partícula do afeto exposto pela querida irmã, não chega a abalar a elegância da homenagem que, com plena justiça, imenso respeito e maior admiração, vem de ser prestada.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Antonio Carlos Secchin por Fabio Coutinho
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Antonio Carlos Secchin
ganhou, entre outros, os prêmios de Revelação de Autor da APCA, o Casa de las Américas e o Guimarães Rosa. No ano de 1998, edita Terratreme, poesia, livro que recebeu o Prêmio Bolsa de Literatura, pela Fundação Cultural do DF. Durante nove anos dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil em Caracas. É Doutor em Literatura pela UnB. Em 2000, publica o livro de poemas Andarilho, da ed. 7Letras. Em 2004, sai Eterno Passageiro (Ed. Varanda). Em 2005, pela Ed. LGE, lança o romance O viúvo, que o crítico Adelto Gonçalves chamou “de uma das primeiras obras primas da literatura brasileira do séc. XXI”. Em 2007 lançou dois livros: Manual de Tortura (Esquina da Palavra, contos, 2007) e A Ideologia do personagem brasileiro (Editora da UnB, ensaio, 2007). Em 2009, sai A máquina das mãos, poemas, publicado pela 7Letras, que ganhou o Prêmio de Poesia 2010, da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro de 2010 lança o romance Um homem é muito pouco. Memória dos Porcos é publicado em 2012. O difícil exercício das cinzas, de 2014, é seguido pelo livro de ensaios A cidade na literatura (2016) e, mais recente, Matadouro de Vozes (2018)
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