sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

East Coker, T. S. Eliot



EAST COKER
                                  (trecho inicial da parte I)

Em meu princípio está meu fim. Umas após as outras
As casas se levantam e tombam, desmoronam, são
                                        [ ampliadas,
Removidas, destruídas, restauradas, ou em seu lugar
Irrompe um campo aberto, uma usina, um atalho.
Velhas pedras para novas construções, velhos lenhos
                                        [ para novas chamas,
Velhas chamas em cinzas convertidas, e cinzas sobre
                                        [ a terra semeadas,
Terra agora feita carne, pele e fezes,
Ossos de homens e bestas, trigais e folhas.
As casas vivem e morrem: há um tempo para
                                        [ construir
E um tempo para viver e conceber
E um tempo para o vento estilhaçar as trêmulas
                                        [ vidraças
E sacudir o lambril onde vagueia o rato silvestre
E sacudir as tapeçarias em farrapos tecidas com a
                                        [ silente legenda.

Em meu princípio está meu fim. Agora a luz declina
Sobre o campo aberto, abandonando a recôndita
                                        [ vereda
Cerrada pelos ramos, sombra na tarde,
Ali, onde te encolher junto ao barranco enquanto
                                        [ passa um caminhão,
E a recôndita vereda insiste
Rumo à aldeia, ao aquecimento elétrico
Hipnotizada. Na tépida neblina, a luz abafada
É absorvida, irrefratada, pela rocha grisalha.
As dálias dormem no silêncio vazio.
Aguarda a coruja prematura.



(tradução Carlos Machado)


segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Soneto de amor e morte, Quevedo









Amor me teve alegre o pensamento
em um tormento cheio de esperança;
carregou-me, por vã, a confiança
o claro olhar do meu entendimento.


Do erro passado hei arrependimento,
pois quando chegue ao porto com bonança,
de quanto glória e bem-aventurança
o mundo pode dar-me, tudo é vento.


Tenho vergonha dos mal passados anos,
que reduzir pudera a melhor uso,
buscando paz, e não seguindo enganos.


E assim, meu Deus, a Ti volto confuso,
certo que hás de livrar-me destes danos,
pois minha culpa sei, e não a escuso.








Tradução: Fernando Mendes Vianna