Nas raízes da mais tenra idade,
vi , no quintal, meu pai
cultivar uma plantação de erros.
Era uma beleza de galhos retorcidos,
mais densos e rasteiros
como são os pensamentos
em forma de tubérculos
que vivem com a cabeça e o corpo
enfiados na terra.
Aqui, um pé atrás de desconfiança.
Ali, as folhas mortas do desinteresse
e os cipós do ciúme.
Eu ainda era muito verde para saber
que a vida também é uma fruta:
uns apodrecem ainda no pé,
outros amadurecem enrolados
na quentura dos jornais
enquanto a maioria
segue o ciclo das frutas:
broto, crescimento e
por fim o cárcere dos dentes.
( do livro O difícil exercício das cinzas. Rio: 7Letras, 2014))