quinta-feira, 5 de maio de 2011
Matam o filho do poeta Sicilia
O poeta mexicano Javier Sicilia escreveu seu último poema para o filho morto e percebeu que as palavras eram insuficientes. Sicilia é conhecido pela sua poesia e por ensaios (acabara de publicar artigo sobre Brecht e Camus). "A poesia não existe mais dentro de mim", afirmou o poeta.
Seu filho foi um dos mortos encontrados numa vala na cidade de Cuernavaca, México. Morreu o filho de Sicila, de 24 anos, por asfixia.
Javier Sicilia agora milita para protestar contra o narcotráfico e a favor da paz. A morte do filho foi a forma mais cruel de calar um poeta.
De volta das Filipinas, onde recebeu a notícia, escreveu no avião seu último poema:
O mundo já não é digno da palavra
Afogaram-na dentro de nós
Da mesma maneira que te asfixiaram
Como se tirassem teus pulmões
E a dor não posso extirpá-la de mim
Somente resta um mundo
Pelo silêncio dos justos
Somente por teu silêncio e por meu silêncio, meu pequeno João.
imagem retirada da internet:cnn
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Javier Sicilia
ganhou, entre outros, os prêmios de Revelação de Autor da APCA, o Casa de las Américas e o Guimarães Rosa. No ano de 1998, edita Terratreme, poesia, livro que recebeu o Prêmio Bolsa de Literatura, pela Fundação Cultural do DF. Durante nove anos dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil em Caracas. É Doutor em Literatura pela UnB. Em 2000, publica o livro de poemas Andarilho, da ed. 7Letras. Em 2004, sai Eterno Passageiro (Ed. Varanda). Em 2005, pela Ed. LGE, lança o romance O viúvo, que o crítico Adelto Gonçalves chamou “de uma das primeiras obras primas da literatura brasileira do séc. XXI”. Em 2007 lançou dois livros: Manual de Tortura (Esquina da Palavra, contos, 2007) e A Ideologia do personagem brasileiro (Editora da UnB, ensaio, 2007). Em 2009, sai A máquina das mãos, poemas, publicado pela 7Letras, que ganhou o Prêmio de Poesia 2010, da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro de 2010 lança o romance Um homem é muito pouco. Memória dos Porcos é publicado em 2012. O difícil exercício das cinzas, de 2014, é seguido pelo livro de ensaios A cidade na literatura (2016) e, mais recente, Matadouro de Vozes (2018)
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Lygia Fagundes Telles por Fabio Coutinho
Lygia, uma paixão
Não, não é da Lygia de Fernando Sabino que vou me ocupar. Dela já cuidou o inigualável Tom Jobim, em parceria com o supercraque tricolor Chico Buarque, numa canção que sempre emociona e arrepia. A Lygia de que vou tratar nestas linhas mal traçadas é a escritora paulista, expoente feminina da chamada Geração de 45, ao lado de Clarice Lispector.
Refiro-me, está claro, a Lygia Fagundes Telles, que, desde O CACTO VERMELHO (1949) e CIRANDA DE PEDRA (1954), premia seus leitores com alguns dos contos e romances mais belos, bem escritos e de cores mais fortes da literatura brasileira contemporânea. Discreta, reservada e ofuscada pelos 70 anos do rei Roberto Carlos, Lygia completou, no mesmo dia, 19 de abril, do badalado aniversário dele, 88 anos de uma vigorosa trajetória pessoal e intelectual.
Bacharel em Direito e em Educação Física, exerceu a advocacia por alguns anos, até o encontro marcado e definitivo com a prosa de ficção, a que passou a dedicar-se de modo integral, para sorte de dezenas de milhares de leitores e admiradores. Seus diversos livros, sucessivamente lançados e relançados, em edições cada vez mais caprichadas, têm um público fiel e cativo, no Brasil e no exterior (Portugal, França e Estados Unidos), que os aguarda e consome com a avidez dos famintos, dos que privilegiadamente percebem na escrita uma fonte de prazer estético e de crescimento interior. Criam-se, de fato, laços de veneração e de gratidão pelas possibilidades que se oferecem aos leitores de partilhar a obra aberta pela maturidade literária de um de seus autores favoritos.
Membro da Academia Brasleira de Letras desde 1985, na sucessão do jurista, biógrafo e historiador baiano Pedro Calmon, Lygia Fagundes Telles escreveu, em parceria com seu segundo marido, Paulo Emílio Salles Gomes, um roteiro para cinema, CAPITU, adaptação livre do célebre romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, fundador e primeiro presidente da gloriosa casa de cultura que Lygia tanto honra.
Numa página de memorialismo intitulada DEPOIMENTO DE UMA ESCRITORA, incluída no fascinante DURANTE AQUELE ESTRANHO CHÁ (Rocco, 2002), Lygia Fagundes Telles disse acreditar na vocação e que esta "vem a ser simplesmente a liberdade de cumprir essa vontade que vem das profundezas, lá das cavernas. Em latim, VOCARE, o chamado. Atender ao chamado, assumir o ofício que se aceita com alegria porque é o ofício do prazer. O ofício da paixão."
Não há dúvida: quando o assunto é Lygia, seja a musa inspiradora de Tom Jobim, seja a grande romancista de AS MENINAS (1973) e AS HORAS NUAS (1989), que é também a formidável contista de ANTES DO BAILE VERDE (1970), SEMINÁRIO DOS RATOS (1977), A ESTRUTURA DA BOLHA DE SABÃO (1978) e A NOITE ESCURA E MAIS EU (1998), a palavra-chave é paixão.
Para concluir, relembrem-se os versos com que, agradecendo um mimo recebido de Lygia Fagundes Telles, Carlos Drummond de Andrade sintetizou a existência da amiga:
" A cinza no cinzeiro, a chama nalma,
Lygia, é o que te desejo: vida calma
e intensa, no seu ritmo criador,
e, entre todas perene, aquela palma
que envolve de um austero resplendor
a quem põe na sua arte o seu amor."
imagens retiradas da internet
Fabio de Sousa Coutinho é advogado e bibliófilo, membro titular do PEN Clube do Brasil.
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Lygia Fagundes Telles
ganhou, entre outros, os prêmios de Revelação de Autor da APCA, o Casa de las Américas e o Guimarães Rosa. No ano de 1998, edita Terratreme, poesia, livro que recebeu o Prêmio Bolsa de Literatura, pela Fundação Cultural do DF. Durante nove anos dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil em Caracas. É Doutor em Literatura pela UnB. Em 2000, publica o livro de poemas Andarilho, da ed. 7Letras. Em 2004, sai Eterno Passageiro (Ed. Varanda). Em 2005, pela Ed. LGE, lança o romance O viúvo, que o crítico Adelto Gonçalves chamou “de uma das primeiras obras primas da literatura brasileira do séc. XXI”. Em 2007 lançou dois livros: Manual de Tortura (Esquina da Palavra, contos, 2007) e A Ideologia do personagem brasileiro (Editora da UnB, ensaio, 2007). Em 2009, sai A máquina das mãos, poemas, publicado pela 7Letras, que ganhou o Prêmio de Poesia 2010, da Academia Brasileira de Letras. Em dezembro de 2010 lança o romance Um homem é muito pouco. Memória dos Porcos é publicado em 2012. O difícil exercício das cinzas, de 2014, é seguido pelo livro de ensaios A cidade na literatura (2016) e, mais recente, Matadouro de Vozes (2018)
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