sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O vento assassinado, Fermando Mendes Vianna

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Invocamos o vento. E o vento veio.
Vivificou nossas vidas sua voragem.

O vento multiplicou a nossa imagem
em espelhos de ar dentro do seio.

Temerosos do despedaçamento
expulsamos o vento. E veio a aragem.

Ah! Perdemos a grandeza da viagem,
a galopada pelo país do vento!

O vento de hoje tem um freio.
Sangra sua boca de tristeza.

Mitologia decepada em sua beleza,
nosso cavalo está partido ao meio.

É mudo o nitrir da sua mensagem.
Sem a fúria da crina, como o campo é feio!

Só velhos ossos do antigo vento
resgatam nosso horizonte da estreiteza.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Depois de tudo, Cassino Ricardo

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Mas tudo passou tão depressa.
Não consigo dormir agora.
Nunca o silêncio gritou tanto
 nas ruas da minha memória.

Como agarrar líquido o tempo
que pelos vãos dos dedos flui?

Meu coração é hoje um pássaro
pousado na árvore que eu fui.




(do livro Jeremias sem-chorar, 1967)