Está
muito claro que fui assassinado naquele verão, à beira da praia, numas férias
fora de hora e, poderia dizer, fora de lugar.
Na vendinha da cidade – caso se possa
chamar o vilarejo de cidade –, vende-se tudo: botões, gás, linhas, agulhas,
lanternas, botes inflamáveis, revistas, varas de pescar, sardinhas enlatadas (e
bem, tudo comestível enlatado) e minha máscara mortuária.– O que é isto? – perguntei.
– Uma máscara – respondeu o dono da loja.
– Oh uma máscara!
– Uma máscara.
– E o que faz uma máscara aqui?
– O mesmo que uma pilha ou um despertador.
– Uma pilha e um despertador.
– Isso mesmo: uma pilha e um despertador.
– Um despertador!
– Ou outro objeto qualquer na loja. Aqui é uma loja – disse o vendedor. – As pessoas vêm, escolhem o que querem, pagam e vão embora.
– Um despertador, ora bolas! Um despertador!
O homem olhou-me abismado.
E assim me levou para conhecer o inferno que estava dentro de um caixote. O inferno era azul e tinha botões dourados.
(conto de Manual de Tortura)