segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Números, poema

 


 


 

 

 

 

Os números não me esquecem.

O zero,

diferente de um que não tem gordura,

quer se passar por invisível.

Por isso, sua forma oca.

A boca aberta para o tempo.

A natureza de furo

e vazio,

um oh de espanto

ou um bocejo do tempo

que não passa.

 

O pior dos números

não é me puxar pela memória.

O pior dos números 

é inverter a aritmética,

tornar o que é um dois

e o que é dois um,

logo dois braços pouco somam,

duas pernas diminuem

o ritmo dos metros.

O trapézio dos olhos

lança o corpo móbile da gravidade.