Amanhece no país do esquecimento,
há muita brancurano país algodoado das lembranças.
Teus olhos, turvados de lágrimas,
estariam inquietos e miúdos,
como se fossem dois corações verdes,
à espera do telefonema que não virá
por dois mortais motivos:
não se telefona para os mortos,
não se lembra dos mortos.
O dia é para mães vivas.
Não podes ser cremada da lembrança
dos homens, nem hoje nem sempre.
O inferno dos dias
e o comércio das emoções
te deixaram atônita
sem entender a razão de
no primeiro ano de tua morte
não receberes o telefonema
no teu dia das mães mortas.
(Memória dos porcos, 2012, 7Letras)