terça-feira, 7 de novembro de 2023

O picadeiro, poema

 


 

 


 

 

 

Na dieta dos dias,

nuvens pesadas

amadurecem a realidade.

Meus olhos

se cansam de tanta lucidez.

O dia se torna então

um corpo de delito

e sinto que meus gestos

são policiados pela melancolia.

A prova dos nove

é o terrorismo do meu pensamento.

Já há muito tempo

devia ter encarcerado

as ideias de crime e castigo.

Sei que a felicidade

é uma maria joana

que a gente inala a pele olorosa

das ervas e planta nossa inocência.

Mas sou triste,

triste como um carneiro.

Todos os carneiros são tristes

como o agnus dei.

Na dieta da lucidez,

meus olhos assassinam

o maduro fruto do paraíso

– essa coisa de

maduro fruto do paraíso

é bom para fazer propaganda de motel.

Na cama elástica

das minhas melancolias,

faz acrobacia a infância

que dá três cambalhotas

e cai fora do picadeiro da vida.