Tenho um boneco dentro de mim
que fala a madeira do mundo.
Minha boca
dura um minuto antes de minha fala.
Aos poucos me acostumo
a ouvir vozes que sussurram bonecos.
Ainda terei a malícia
dos olhos fixos e azuis
arregalados de riso.
Meus pés flutuam
calçados de submissão.
As tristezas são guturais
e ficam presas na dublagem da vida.
Quem fala por mim?
O que boneco
que sou entre gentes
ou o humano
que fala entre bonecos?
As pessoas têm o dom
de colocar palavra na minha boca.
Falam por mim,
mexem meus braços por mim,
dão pulos de madeira por mim.
Ser ou não ser um boneco?
Minha fala shakespeariana
ainda vai hamletizar minha existência.
Cara de pau, dirão os inimigos.
Meu silêncio
fala pelos cotovelos.
Todo meu corpo
é uma fala de outra pessoa.
O que tenho medo
é do madeirame das opiniões,
da vida gepeto que levo
que quer ter vida própria.