Se não me olhares quando eu já estiver
longe de tudo e para sempre ausente,
numa presença além que ainda puder
pensar em ti comigo eternamente,
hei de te olhar sem nódoa de mulher
na tua infância a estar em mim presente,
para que sejas e te faças per-
pétua como um sol sem seu poente.
Se não me olhares quando eu morto for
uma paisagem a ninguém saber
ou olhar sequer com os olhos que são os teus:
na eterna luz a quem é criador,
hei de criança ainda mais te ver
para da infânia nunca dar-te adeus.
(do livro O Cirurgião de Lázaro, Rio: Contracapa, 2010)