As leis de mim
têm seu código
e seu livro das desventuras,
a relação penal
dos meus passos
com o cadafalso
que me busca
para ser verdadeiro.
O vade
mécum
de minhas ousadias
se comprimem
nas linhas que escrevi.
Ali estão
todas as transgressões do espírito,
as abominações das certezas
e todos os indícios
que me levam à pena capital:
a penalidade dos tolos
que escrevem e delatam
todos os seus pecados.
A barra de meu tribunal
é pesada.
Sou eu minha testemunha
principal e meu delator.
A mim me condeno
ao júri dos outros.
Uma eterna ação
– ou uma internação –
me processa todos esses anos:
juro dizer a verdade,
nada mais que a poesia.
(do livro Matadouro de vozes, 2018)