quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Código postal, poema RCF








Faz tempo que me mudei.
Às vezes mudo e não falo nada a ninguém.
Nada me endereça.
Sou destinatário de todas as entregas equivocadas.

Não gosto de mergulhar em mim.
O sal do pensamento é grosso.
No fundo sou um sujeito que não dá pé.
Por isso cada mergulho é um naufrágio.
E não faz bem à saúde
naufragar todos os dias.




Memória dos Porcos, 2012

foto: rodney smith

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Diálogo das asperezas, poema RCF




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Escura é a ligeireza dos sentidos.
A verdade miúda 
sussurrava um mundo de raízes.

De todos os sabores,
o mais forte é a lembrança.

E rude como um deserto que ninguém frequenta, 
adentro, desviado da memória, 
a porta dos ausentes.






(do livro Matadouro de vozes. Rio: 7Letras, 2018)