sábado, 1 de janeiro de 2022

Buraco, poema RCF



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Jogador que blefa
quero ganhar estrada
perder-me em qualquer canto.
Eu sou o morto, canastra e pervertido,
não escrevo nem recebo cartas
compro o resto de mim que não posso descartar
coringa que não tem jogo
onde se encaixe.


(do livro Andarilho, 7Letras, 2000)

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Lições de voo




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A tristeza sempre é mais pesada que o ar.
Cavalos marinhos galopam
a pradaria das somas:
todos os dias é tomada
a tabuada da luz
até que um erro
leva à palmatória de zeros
e à dízima periódica do mal.

O meu balão de ensaio
se prepara para o ato final.
O convento dos ventos
fornece malícias
para a prática
das celas ao ar livre.
O longo calado do silêncio
flui para frear as correntes
até tudo findar
ao suave desprezo das corredeiras.
Setembro se esvai por uma fresta.




 (do livro Matadouro de vozes, 2018)








domingo, 26 de dezembro de 2021

A impostura dos néscios, poema RCF






 Resultado de imagem para Lasar Segall







Tu me falavas
de futuros indecifráveis
que se podiam ler
no giroscópio das luas.

Sussurravas tuas queixas redondas,
grávidas de lamentos,
as mãos longas das esperas,
os olhos como pedras
que aguardam sem agitar-se.

A incerteza dos ventos
criava comboios negros
nas noites em claro e escuro
do quarto de concentração,
das febres que são mais altas
quando não queimam.




(do livro Matadouro de Vozes, 2019)