Deus criara o cio das fêmeas e deu olfato aos machos. Clemente teria que aprender com outros de sua espécie a arte da conquista que já soubera em outros tempos, mas que a beleza e classe social de Yolanda o transformavam em bicho que bufa para conquistar, outros ainda esperneiam – talvez espernear não fosse o método mais correto –, há ainda outros que se mutilam – método muito doloroso –, alguns cantam, andam em roda como índios, emitem cheiros nauseabundos para humanos, há aqueles que abrem asas se têm asas.
Mas Clemente não precisou reaprender nada, porque a lei da atração é mais forte e os dois iam subindo a escada e ela se desequilibrou, ele a amparou e ela caiu nos braços de Clemente e quando viram estavam se beijando, se tocando, tirando a roupa um do outro, dentro do quarto de duzentas escotilhas de Clemente que teve de fechar as persianas que caíram desajeitadas e brutas para fazer noite o dia no quarto a fim de que não apenas não os vissem de fora, mas a penumbra diminuísse o pudor e ela pudesse ser plenamente fêmea e ele plenamente macho.
Durante os dias seguintes o quarto estava presente em toda a casa. A cozinha passou a ser quarto, as escadas passaram a ser quarto, a sala passou a ser quarto, o banheiro passou a ser quarto. E qualquer superfície virou cama, cama dura, cama de madeira, cama de azulejo, cama de chão. Isso porque nunca a empregada fora tão dispensada e fora tanto ao cinema levar a filha de Yolanda, a menina Aninha que sofria de gritos e convulsões e que nunca mais teve gritos e convulsões e como era época de férias escolares até mesmo uma viagem para o interior de Minas Yolanda preparou para que a empregada fizesse de dama de companhia que dama de companhia não mais existia, mas Yolanda, com seu linguajar de outro tempo e de outra classe, deu à empregada termo novo e função outra a fim de que ela pudesse mudar a arquitetura da casa da Tijuca e transformasse tudo em quarto e cama a fim de serenar o furor da espécie quando mistura paixão e sexo ou faz sexo com paixão ou se apaixona e faz tanto sexo que parece que o corpo que é único pode se exaurir de tanto amar e definhar de tanto gozo e felicidade.
Embora Arlindo tenha mandado recado para que Clemente fosse falar com ele, nenhum dos dois procurou o outro. Clemente achava que não devia procurar ninguém e se alguém tinha que procurar o outro era o capitão Vaz quem havia de se explicar. Mas Clemente não pensava mais em Arlindo nem também em Matilde e, se por acaso a memória fizesse das suas e lhe trouxesse imagem do passado dos dois, ele logo a expulsava com balançar de cabeça e muxoxo como se fosse algo físico, mosca ou vira-latas que se põe a correr com grito e palma. Mas o que Clemente não sabia é que o mundo da Marinha não é oceano, mas pequena lagoa onde todos se encontram. E muito menos Clemente sabia que havia outro mundo, o chamado mundo da política, que também fazia parte da mesma lagoa da Marinha. Clemente nunca dera bola para a política e muito menos agora que andava por parques de diversão, pela Quinta da Boa Vista, levando Aninha ao zoológico, ao cinema para ver musicais e comédias, indo ao restaurante com Yolanda, até mesmo ao baile na casa de uma amiga, onde Clemente se mostrou competente com os pés da mesma maneira que o era com as mãos.
A gente conhece pouco as mãos, pensou Clemente. E muito menos a escuridão. Na escuridão há gosto de sangue na boca. Outras vozes vindas não se sabe de onde gritavam em seu ouvido e não podia distinguir quem mais o acusava, quem mais o destratava. A casa tinha cheiro de suor e de fim. O cheiro de fim ele conhecera várias vezes. Ao lado dele estava o fim. O fim já não falava. O fim fora tão barbaramente torturado que, mesmo com médico mantendo-o vivo para que não morresse, o fim não pôde suportar mais a dor. Ele, Clemente, não sabia de seus limites. Há homens que pensam que têm muito limite e quando se defrontam com o seu limite percebem que já é tarde.
Mas Clemente não precisou reaprender nada, porque a lei da atração é mais forte e os dois iam subindo a escada e ela se desequilibrou, ele a amparou e ela caiu nos braços de Clemente e quando viram estavam se beijando, se tocando, tirando a roupa um do outro, dentro do quarto de duzentas escotilhas de Clemente que teve de fechar as persianas que caíram desajeitadas e brutas para fazer noite o dia no quarto a fim de que não apenas não os vissem de fora, mas a penumbra diminuísse o pudor e ela pudesse ser plenamente fêmea e ele plenamente macho.
Durante os dias seguintes o quarto estava presente em toda a casa. A cozinha passou a ser quarto, as escadas passaram a ser quarto, a sala passou a ser quarto, o banheiro passou a ser quarto. E qualquer superfície virou cama, cama dura, cama de madeira, cama de azulejo, cama de chão. Isso porque nunca a empregada fora tão dispensada e fora tanto ao cinema levar a filha de Yolanda, a menina Aninha que sofria de gritos e convulsões e que nunca mais teve gritos e convulsões e como era época de férias escolares até mesmo uma viagem para o interior de Minas Yolanda preparou para que a empregada fizesse de dama de companhia que dama de companhia não mais existia, mas Yolanda, com seu linguajar de outro tempo e de outra classe, deu à empregada termo novo e função outra a fim de que ela pudesse mudar a arquitetura da casa da Tijuca e transformasse tudo em quarto e cama a fim de serenar o furor da espécie quando mistura paixão e sexo ou faz sexo com paixão ou se apaixona e faz tanto sexo que parece que o corpo que é único pode se exaurir de tanto amar e definhar de tanto gozo e felicidade.
Embora Arlindo tenha mandado recado para que Clemente fosse falar com ele, nenhum dos dois procurou o outro. Clemente achava que não devia procurar ninguém e se alguém tinha que procurar o outro era o capitão Vaz quem havia de se explicar. Mas Clemente não pensava mais em Arlindo nem também em Matilde e, se por acaso a memória fizesse das suas e lhe trouxesse imagem do passado dos dois, ele logo a expulsava com balançar de cabeça e muxoxo como se fosse algo físico, mosca ou vira-latas que se põe a correr com grito e palma. Mas o que Clemente não sabia é que o mundo da Marinha não é oceano, mas pequena lagoa onde todos se encontram. E muito menos Clemente sabia que havia outro mundo, o chamado mundo da política, que também fazia parte da mesma lagoa da Marinha. Clemente nunca dera bola para a política e muito menos agora que andava por parques de diversão, pela Quinta da Boa Vista, levando Aninha ao zoológico, ao cinema para ver musicais e comédias, indo ao restaurante com Yolanda, até mesmo ao baile na casa de uma amiga, onde Clemente se mostrou competente com os pés da mesma maneira que o era com as mãos.
A gente conhece pouco as mãos, pensou Clemente. E muito menos a escuridão. Na escuridão há gosto de sangue na boca. Outras vozes vindas não se sabe de onde gritavam em seu ouvido e não podia distinguir quem mais o acusava, quem mais o destratava. A casa tinha cheiro de suor e de fim. O cheiro de fim ele conhecera várias vezes. Ao lado dele estava o fim. O fim já não falava. O fim fora tão barbaramente torturado que, mesmo com médico mantendo-o vivo para que não morresse, o fim não pôde suportar mais a dor. Ele, Clemente, não sabia de seus limites. Há homens que pensam que têm muito limite e quando se defrontam com o seu limite percebem que já é tarde.