quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Ave e o convívio poema


 

 

 




 

 

Pensei em teus olhos

de vidro

que nunca me viam.

Bem te viam nas árvores,

aves, as mesmas aves da ilusão,

que voavam no pensamento,

rápidas e titubeantes

como uma pipa,

ensolarando o pólen da vida.

 

Toda ave é

um exercício de poesia.

Fora do poema,

as palavras pesam

a difícil arte do convívio.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Tempestade em copo d’água, poema

 


 


 

 

 

 

Escorrem pelas comissuras

a colheita dos ventos.

Não sei pronunciar

a palavra morte

que é um copo cheio de nada.

 

Chove a cântaros

numa taça de vinho

e ventos furiosos

espumam

as marés das cervejas.

 

Os copos gelados

são icebergs à deriva das bocas

– os corpos quentes

são lavas

na montanha dos homens

e vertigem

no abismo das mulheres.

 

Há muitos copos

na tempestade.

E meus lábios

beijam a boca da noite.

 

 

 

 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Coser ou inventário, poema

 


 


 

 

 

Pelas manhãs, me sento no inventário

a fim de coser alguma ficção.

Costuro com a linha da trama

inventários os mais diversos.

Nos meus inventários,

também consta o tubo de ensaio

que é outra forma de lista:

no livro-caixa

a certidão imprecisa

do inventário dos outros.

Também cultivo

a linha de outro coser:

o inventário da poesia,

que é um coser de linhas tortas.