quinta-feira, 11 de março de 2021

Plástica, poema RCF


can dagarslani

A única plástica que me serve
não é na face, mas nas lágrimas.
Quero um rosto sem lágrimas, doutor.
Retirar a glândula que produz
a lágrima dos mortos.
Meus mortos surgem no trânsito,
no banho, no banco, no trabalho.
Os mortos não deviam vir ao trabalho.
Choraria em seco.
Um rosto seco, um rosto plástico,
um rosto cirúrgico.
E sem saber por que não podem
sair do cárcere seco em que os pus,
renasceriam na caixa imaginária,
que é a memória,
em outra forma que não fosse líquida.




(Memória dos porcos, Rio: 7Letras, 2012)

quarta-feira, 10 de março de 2021

O globo da vida, poema RCF




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O modo circense 
de o globo da vida 
inflamar-se plural e ácido
em seu moto contínuo
ameaça o equilíbrio 
da linha do meu equador. 

Durmo sobre uma cama elástica 
que estende a borracha da pirueta
escrita com um lápis sem ponta
que convive com a dissipação.





(poema de Matadouro de vozes. Rio: 7Letras, 2018)