Ah,
o envolvimento dramático e o esforço físico de Pavarotti pra alcançar e dar forma ao maravilhoso e dificílimo sustenido final de Nessun Dorma são tão grandes,
que,
quando ele termina,
em esgotado êxtase,
seus olhos fixos estão fora do mundo ( que o aplaude em desvario, gritando Perfezione assoluta!, Prova dell'esistenza di Dio! ).
É um mágico instante, aquele em que eu vejo que o dourado androide de Guerra nas Estrelas,
de 77,
e a ginoide com sístoles e diástoles, do Metrópolis,
de 27,
têm,
precedente,
a dupla – e é notável, isto - do século oito antes de Cristo,
quando me é manifesto,
na poesia da Ilíada,
que Hefesto – como parte de seu tesouro - tinha duas
servas de ouro,
ativas
como se fossem vivas.
Viro o rosto, fechando os olhos – descomposto - pra não ver as lâminas giratórias na degola que imola milhares de frangos que vêm, suspensos pelo pescoço, em fila mecânica e pânica, que horripila,
no abatedouro,
pra completar a hecatombe de bois
do matadouro.