Os pássaros se jogam de cabeça
na piscina vertical do reflexo
e, na sua ânsia de voo,
não percebem que a janela
é uma fotografia de vidro.
Os pássaros já vêm com pescoços torcidos
para a forca horizontal
da janela narcísica
em busca do infinito.
O lago de vidro não tem fundo
e o que espelha
é apenas uma imagem virtual
que mata com sua força de ilusão.
Nada é tão cortante, falso,
nulo e sem perspectiva
que a ilusão de vidro fumê.
Há de se ter por coisa não pouco
miúda isso do medo dos vidros,
da ilusão que pode se converter
em forca e fazer do voo diário
um espelho de pescoço torcido.